Neste webinar promovido pela MUBi, parceira do Hi-BicLab, no âmbito do Dia Mundial da Bicicleta, M. Luísa Sousa apresentou alguns resultados da investigação realizada há alguns anos no âmbito da sua tese de doutoramento sobre como as ruas e as estradas foram gradualmente sendo enquadradas como um problema a resolver para promover a mobilidade automóvel. Esta apresentação foi seguida de debate, tendo o webinar terminado com o visionamento de uma entrevista previamente feita por Vera Diogo a Leszek Sibilski, que liderou uma campanha para a criação do Dia Mundial da Bicicleta. 

Ao explicar como o "problema das estradas" foi gradualmente sendo apresentado como um "problema do automóvel", esta apresentação contribuiu para se perceber como a "automobilidade" foi "vendida" nos discursos público e técnico, no planeamento de estradas e na regulamentação da circulação, em detrimento de outros modos de mobilidade (como a ciclável). 

De pelo menos três significados que se encontram para a palavra estrada - via pública, acumulação de estratos, ou caminho rasgado - todos foram adaptados ao aparecimento do automóvel: o conceito de via pública e dos seus usos teve de ser negociado entre os automobilistas e os anteriores utilizadores da via pública; a sua formação em camadas e o tipo de materiais empregues tiveram de ser repensados em função da necessidade de novos pavimentos mais duros e mais lisos para o automóvel; a sua ruptura na paisagem teve de se adaptar ao passarem a considerar-se as novas velocidades permitidas pelos veículos motorizados, ao terem de ser repensados traçados, os cruzamentos de nível com outras estradas ou com linhas férreas e a criação de novas sinalizações que materializavam a regulação da circulação.

Neste webinar foi abordada a mudança que ocorreu nas estradas durante a primeira metade do século XX, o que foi um processo transnacional, e a forma como esta foi consagrada, em Portugal, no plano rodoviário de 1945, que vigoraria até 1985. Neste período construíram-se também novas representações das estradas no continente português, mediadas, durante o Estado Novo, pela acção da Junta Autónoma de Estradas (JAE), que se tornaria um dos órgãos mais importantes do Ministério das Obras Públicas, trabalhando na realização material e discursiva do regime, contribuindo para uma visão político-administrativa do território e permitindo um reforço do seu controlo.